segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Cuidado com os Burros Motivados


A revista ISTO É publicou esta entrevista de Camilo Vannuchi. O entrevistado é Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra, com Pós-Graduação em administração de empresas pela USP, consultor organizacional e conferencista de renome nacional e internacional. Em 'Heróis de Verdade', o escritor combate a supervalorização das aparências, diz que falta ao Brasil competência, e não auto-estima.


ISTO É - Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki - Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo.
Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes.
E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados.
Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu à pena, porque não conseguiu ter o carro, nem a casa maravilhosa.
Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa, possa se orgulhar da mãe.
O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes.
Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros.
São pessoas que sabem pedir desculpas e admitiram que erraram.

ISTO É - O Sr. citaria exemplos?
Shinyashiki - Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia.
Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis.
Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem.
Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito '100% Jardim Irene'.
É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes.
O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana.
Em países como o Japão, a Suécia e a Noruega, há mais suicídio do que homicídio.
Por que tanta gente se mata?
Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher, que embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego, que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.

ISTO É - Qual o resultado disso?
Shinyashiki - Paranóia e depressão cada vez mais precoce.
O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece.
A única coisa que prepara uma criança para o futuro, é ela poder ser criança.
Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas.
Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTO É - Por quê?
Shinyashiki - O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento.
É contratado o sujeito com mais marketing pessoal.
As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência.
Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras.
Disse que ela não parecia demonstrar interesse.
Ela me respondeu estar muito interessada, mas como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas.
Contratei-a na hora.
Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

ISTO É - Há um script estabelecido?
Shinyashiki - Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional no programa 'O Aprendiz'?
- Qual é seu defeito?
Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal:
- Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.
É exatamente o que o Chefe quer escutar.
Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido?
É contratado quem é bom em conversar, em fingir.
Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.
O vice-presidente de uma as maiores empresas do planeta me disse:
'Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir'.
Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor!

ISTO É - Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki -Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento.
Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência.
Cuidado com os burros motivados.
Há muita gente motivada fazendo besteira.
Não adianta você assumir uma função, para a qual não está preparado..
Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão.
Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso, para o qual eu não estava preparado.
Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia.
O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

ISTO É - Está sobrando auto-estima?
Shinyashiki - Falta às pessoas a verdadeira auto-estima.
Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa.
Antes, o ter conseguia substituir o ser.
O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom.
Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser, nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer.
As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam.
E poucos são humildes para confessar que não sabem.
Há muitas mulheres solitárias no Brasil, que preferem dizer que é melhor assim.
Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

ISTO É -Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki -Isso vem do vazio que sentimos.
A gente continua valorizando os heróis.
Quem vai salvar o Brasil? O Lula.
Quem vai salvar o time? O técnico.
Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta.
O problema é que eles não vão salvar nada!
Tive um professor de filosofia que dizia:
'Quando você quiser entender a essência do ser
humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham'. Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia.
Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo.
A gente tem de parar de procurar super-heróis, porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.

ISTO É - O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Shinyashiki - Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado.
A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza.
Não há nada de errado nisso.
Hoje, as pessoas estão questionando o Lula, em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram.
A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

ISTO É
- Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Shinyashiki -Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente.
Há várias coisas que eu queria e não consegui.
Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos.
Com uma criança especial, eu aprendi que, ou eu a amo do jeito que ela é, ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse.
Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo.
O resto foram apostas e erros.
Dia desses apostei na edição de um livro, que não deu certo.
Um amigão me perguntou:
'Quem decidiu publicar esse livro?'
Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTO É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki - O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las.
São três fraquezas:
A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança.
Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram.
Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno.
Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards.
Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates.
O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

ISTO É
- Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki - A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade...
A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se eles não tivessem significados individuais.
A segunda loucura é:
Você tem de estar feliz todos os dias.
A terceira é:
Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo.
Por fim, a quarta loucura:
Você tem de fazer as coisas do jeito certo.
Jeito certo não existe.
Não há um caminho único para se fazer as coisas.
As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade.
Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito.
Tem gente que diz que não será feliz, enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento.
Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo à praia ou ao cinema..
Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais.
Todos os dias morriam nove ou dez pacientes..
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte.
A maior parte pega o médico pela camisa e diz:
'Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei à vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz'.
Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas.
Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Que tempo bom, que não volta nunca mais...


Às vezes dá uma vontade incontrolável de voltar nos tempos de colégio com aquelas super preocupações nível máximo: prova de química no segundo tempo, obrigações do dia-a-dia exaustivas, pular na cama até cansar cantando Mamonas Assassinas, ficar horas em claro pensando em uma comida com a letra h...

Às vezes dá uma vontade de trocar o mundo inteiro pelo mundinho do colégio, que na época causava tédio por ter tudo o que queria no mesmo lugar, mas que hoje vejo que não precisava mesmo de mais nada além do que tinha da estradinha dos abacateiros para dentro.


E as viagens?! Viajar já é bom, mas viajar com tudo pago, com todos os seus amigos, pra sair cantando por aí com muita tranquilidade - porque até as faltas na escola nesse período seriam abonadas - realmente era a melhor coisa do mundo!



Saudades das pessoas, das conversas intermináveis na madrugada, das festas do grêmio, da quadra lotada, de me divertir com a chegada dos novatos, das programações especiais, de dar “bolinho” em quem começava a namorar, de ver os novos casais levando as bandeijas do refeitório inteiro, do desespero das alunas ao ser anunciada a “presença masculina no domitório”, da gincana das cores, do show de talentos, do coral jovem, da comida especial do sábado, de matar aula para namorar ou ficar dormindo até mais tarde.

Mas tem coisas que eu não sinto a menor falta também, como acordar antes das 6 para não perder o café da manhã, as aulas educativas – não levo o menor jeito com artesanato – fazer tudo correndo a noite porque a luz do dormitório apagava às 22 horas (e se eu não estivesse com sono para dormir, azar o meu?!), não poder namorar com liberdade (desnecessário comentar), não ter saída livre (pedir autorização para a “Prepa” Percília para sair, era um parto), deixar o quarto impecável para o dia da avaliação (gente, nem minha mãe era tão rigorosa) e “pagar castigo” (lembrar de algo que só acontecia na infância durante a minha adolescência, com risco de perder a bolsa de estudos; dava um certo pânico, mas ainda assim eu paguei 2 vezes...rs).

Mas até do que eu não gostei, eu lembro dando risadas, porque foi realmente muito bom!

Hoje, os “sobreviventes” de 1998 à 2000, minha fase de Unasp-II, estão por aí: no Brasil, fora dele, estudando, lecionando, casando, trocando fraldas, repensando a profissão, desbravando o mundo.

Melhor ainda é pensar que nesse momento, em algum lugar do mundo, tem alguém dando continuidade a uma parte da minha história...

Boa sorte a todos!

Fernanda Anjos
Ouvindo: Coral Jovem do Unasp-II, "Meu primeiro amor".

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A alma dos Diferentes

"... Ah, o diferente, esse ser especial! Diferente não é quem pretenda ser.
Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não aguentar, caso um dia venham, a ser.

O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição. O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e visadas.

Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias, adiadas; esperanças, mortas. Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.

Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro.

Diferente que se preza entende o porque de quem o agride. Se o diferente se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.

O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores.

O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual: a inveja do comum; o ódio do mediano.

O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.

O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura.

O que é percepção aguçada em: "Puxa, fulano, como você é complicado".

O que é o embrião de um estilo próprio em :"Você não está vendo como todo mundo faz? "O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações os quais acaba incorporando.

Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores.

Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber.

Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham. É o que engorda mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram. Quer onde outros cansam. Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde o hábito rotiniza. Sofre onde os outros ganham.

Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supõe. Perde horas em coisas que só ele sabe ser importantes. Engorda onde não deve. Diz sempre na hora de calar. Cala nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia.Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar.

Ele aprendeu a superar riso, deboche, escárnio, e consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.

Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba. Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.

A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes.

Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois."

Artur da Távola
(Enviado por meu amigo, Tiago Costa).

Alienação


Você já tentou se alienar de alguma coisa?

Segundo o dicionário Alienar é afastar-se da realidade.

E muitas pessoas preferem mesmo se afastar por “n” razões: algumas acreditam que não manter contato com a realidade pode evitar o sofrimento, outras se afastam por faltar coragem para enfrentá-la e há ainda os que optam por não fazer nada, o que em si já é uma opção. Isso é alienar-se.

Há quem se aliene da política do país, e não tiro a razão de ninguém. São tantas decepções que às vezes é melhor não saber o que está acontecendo.

E quando seu time está perto da zona de rebaixamento ou até mesmo quase caindo e você tira aquelas férias do futebol? Nunca tive esse problema, mas tenho um amigo no trabalho que já há alguns meses está nessa condição. Pobre tricolor carioca...
Outra conclusão que podemos tirar é que é muito fácil torcer nas horas boas, mas não quero entrar nesse ponto.

Mas você já tentou esquecer algo que te faz bem? Sim eu sei, é loucura!
O fato é que às vezes precisamos nos afastar do que mais amamos e essa tarefa é muito árdua.

E quando pedem que nos afastemos?
“Mas por quê?” - perguntaria você - e eu reforço: mas por quê?!
Quem nunca participou da famosa cena onde a mocinha diz ao garoto que precisa de um tempo para pensar? Por que somos ensinados a nos alienar de alguém quando esse alguém é a nossa realidade?

Esquecer deve ser uma arte e quando alguém descobrir seus segredos, por favor, me ensine.
Porque até que se aprenda, trava-se uma guerra, uma luta de espera, de paciência...
Talvez nunca a vença, mas até que se aprenda, quem está ligando pra isso?!

E onde fica a alienação nessa história?

Talvez no esforço que se faz para ignorar o que se sente.

Porque ninguém assume, mas todos preferem boas doses de realidade à uma triste alienação.

Fernanda La Salye

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sinceridade versus Tato


"Eu falo o que quero, quando quero e como quero".

Sou completamente contra essa postura!

Não que as pessoas devam reprimir seus sentimentos - e isso inclui mágoas e raivas - pelo contrário, acho mesmo que antes de ser sincero com os outros, é preciso ser sincero consigo, portanto, extravasar torna-se necessário. Mas ser sincero não implica ausência de tato.

Tem gente que para dizer uma "verdade", passa por cima de tudo e todos como um trator, como se a pessoa que recebe a crítica nesse momento fosse capaz de acionar uma espécie de botão 100% racional, que a impede nos minutos que se seguem de sentir qualquer indisposição, tristeza ou até mesmo de ter a auto-estima completamente destruída.

Se o que eu pretendo dizer ao outro implica diretamente no crescimento dele, devo assegurar que ao final da minha conversa, ele terá uma atitude positiva sobre a vida e conseguirá repensar o que está errado. Se o resultado da minha conversa resultar em mais erros e principalmente, decepções, não fiz diferença alguma, apenas evidenciei meu temperamento explosivo e o meu egoísmo exacerbado.

É claro que todos temos liberdade para escolher o que fazer com um conselho ou crítica, sendo assim, até quando policiamos a nossa maneira de falar alguma coisa, nem sempre o final é tranquilo, porque eu não posso prever as ações do outro.

Mas eu posso controlar as minhas ações e fazer com que os que me cercam sintam prazer ao falar comigo e não medo. Posso fazer com que eu seja a primeira pessoa que eles pensem quando precisarem de uma orientação. Posso ser um facilitador e não um impedimento...

Fernanda La Salye